terça-feira, 16 de setembro de 2008

UM CONTO CÉLERE

Casualmente ele adentrava aquele recinto. De posse de seus escritos e pastas passava ele por entre aquelas prateleiras tangendo os livros com o mais sensível olhar. Era um artista, decerto, mas sua humanidade acalentava um outro tipo de sonho, um sonho torpe que lhe era estranho a cada vez que por entre aquelas folhas malditas passava ele. O outro se escondia era no relógio da parede, no rosto do livreiro, no chão enxarcado pela chuva; e o outro não se via, porém se sentia, pois era um espírito que cortejava a luz da palavra não dita. Um copo d´água é pedido e o suor da mão enxugado calmamente. Pressentimento da retomada do corpo por um outro aunsente. O livreiro oferece uma mercadoria. O dinheiro é calculado e não dado.
- Ótimo preço! Mercadoria que ajuda, consola, só não dá refúgio completo... isso só se encontra em drogarias.
- Não quero. Obrigado e um bom dia...
O livreiro retira do bolso uma moeda agarrada e joga ao mendingo estendido na porta;
uma porta já atravessada por aquele que nunca há de ter um nome.
Nunca mais foi visto. Só no inferno, onde seus amigos ainda o aplaudem e bajulam. Sua carne é oferecida em sacrifício para algum deus sem nome.

16/09/2008 - Robson Monteiro

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